Colaboração, cooperativismo, empatia… Confira os principais destaques do mais novo relatório da educação publicado pela Unesco

Ao longo dos dois últimos dois anos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mais conhecida como Unesco, desenvolveu um relatório para definir as metas internacionais de educação.

Publicado em dezembro de 2021, o relatório intitulado “Reimaginando nosso futuro juntos: um novo contrato social para a educação” identifica questões-chave nas quais todos os países devem centrar seus sistemas educacionais.

De acordo com esse novo contrato social para a educação, todos os integrantes da sociedade devem atuar por benefícios comuns a partir de dois princípios básicos: acesso à educação de qualidade por toda a vida e fortalecimento da educação como um bem comum

A seguir, vamos conferir do que trata o novo relatório Unesco e como podemos aproveitar suas ideias. 

Novo contrato social

Segundo a Unesco, em um novo contrato social para a educação, a pedagogia deve ser organizada em torno dos princípios de cooperação e solidariedade, construindo as capacidades dos alunos para trabalharem juntos na transformação o mundo.

Ao olharmos para 2050, existem quatro princípios para orientar o diálogo e as ações necessárias para levar essa recomendação adiante: 

  • Interconectividade e interdependências devem enquadrar a pedagogia. Os alunos precisam aprender como as ações dos outros os afetam e como suas ações afetam os outros e, por essa razão, as salas de aula e as escolas devem colocar os alunos em contato com outras pessoas que são diferentes deles; 
  • A cooperação e a colaboração devem ser ensinadas e praticadas de maneira apropriada em diferentes níveis e idades; 
  • Solidariedade, compaixão, ética e empatia devem estar enraizadas na forma como aprendemos. Devemos acolher a plena diversidade dos recursos culturais da humanidade na educação; 
  • A empatia – a capacidade de entender o outro e sentir como ele – é essencial para a construção de pedagogias de solidariedade;
  • A avaliação deve estar alinhada a esses objetivos e ser significativa para o crescimento e aprendizado do aluno. 

Outros parâmetros

A educação é, com razão, um pilar do Marco para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 – uma visão inclusiva para a humanidade promover o bem-estar, a justiça e a paz para todos, bem como as relações sustentáveis ​com o meio ambiente. No entanto, a educação em todo o mundo continua a ficar aquém das aspirações que temos para ela. 

O Programa da OCDE para Avaliação Internacional de Estudantes mostrou que parcelas consideráveis ​​da população de 15 anos de idade na escola são incapazes de compreender o que lêem além dos níveis mais básicos, em um mundo em que as demandas por participação cívica e econômica se tornam cada vez mais complexas.

As recomendações de 2019 da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da OIT para garantir um futuro do trabalho centrado no ser humano são um ponto de partida valioso. Esta agenda coloca as pessoas e o trabalho que realizam no centro da política económica e social e da prática empresarial.

Reimaginar a educação

De acordo com a agência, o mundo está em um ponto de virada e as disparidades globais significam que a educação ainda não está cumprindo sua promessa de ajudar a moldar futuros pacíficos, justos e sustentáveis.

Altos padrões de vida coexistem com desigualdades escancaradas e, embora a praça pública seja amplamente ativa, “o tecido da sociedade civil e da democracia está se desgastando em muitos lugares ao redor do mundo”.

Para a Unesco, as rápidas mudanças tecnológicas também estão transformando vidas, mas essas inovações “não são adequadamente direcionadas à equidade, inclusão e participação democrática”.

“É por isso que devemos reimaginar a educação”, argumenta o relatório.

Um novo contrato social

Durante o século 20, a educação pública visava essencialmente apoiar a cidadania nacional e os esforços de desenvolvimento através da escolarização obrigatória para crianças e jovens.

Hoje, no entanto, enquanto o mundo enfrenta graves riscos para o futuro, a Unesco acredita que “devemos reinventar urgentemente a educação para ajudar a enfrentar esses desafios comuns”.

Nesse contexto, a agência está pedindo um novo contrato social que deve unir o mundo “em torno de empreendimentos coletivos e fornecer o conhecimento e a inovação necessários para moldar futuros sustentáveis e pacíficos para todos ancorados na justiça social, econômica e ambiental”.

Também deve “defender o papel desempenhado pelos professores”, diz o relatório. 

Direito à educação

Para a Unesco, esse novo contrato social deve se basear nos amplos princípios que sustentam os direitos humanos, como inclusão e equidade, cooperação e solidariedade.

Também deve ser regida por dois princípios fundamentais: garantir o direito à educação de qualidade ao longo da vida e fortalecer a educação como um bem público comum, diz a agência.

A ampliação da desigualdade social e econômica, as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, o retrocesso democrático e a automação tecnológica disruptiva são alguns dos desafios destacados.

“As formas como atualmente organizamos a educação em todo o mundo não fazem o suficiente para garantir sociedades justas e pacíficas, um planeta saudável e um progresso compartilhado que beneficie a todos. Na verdade, algumas das nossas dificuldades decorrem da forma como educamos”, diz o relatório.

Proposta de renovação

A publicação inclui algumas propostas para renovar o setor.

Para começar, a prática de ensino precisa passar de um foco em aulas orientadas pelo professor centradas na realização individual, para enfatizar a cooperação, colaboração e solidariedade, argumenta a Unesco.

Os currículos, muitas vezes organizados como uma grade de disciplinas, precisam enfatizar o aprendizado ecológico, intercultural e interdisciplinar. 

O ensino precisa “deixar de ser considerado uma prática individual para se tornar ainda mais profissionalizado como um esforço colaborativo”. 

A publicação chama as escolas de “instituições globais necessárias que precisam ser salvaguardadas”, mas argumenta que o mundo “deve passar da imposição de modelos universais e reimaginar as escolas, incluindo arquiteturas, espaços, horários e agrupamentos de alunos de diversas maneiras”.

A agência conclui dizendo que o relatório “é mais um convite para pensar e imaginar do que um projeto”, e as perguntas devem ser respondidas em comunidades, países, escolas, programas e sistemas educacionais em todo o mundo.

Para acessar o relatório completo da Unesco (em inglês), clique aqui.